segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Das Cinzas às Chamas

      Buenas, pessoal! A sequência de Jogos Vorazes já arrancou elogios inacreditáveis da crítica e vem conquistando um publico cada vez maior, então eu não poderia deixar de falar um pouco sobre como Em Chamas surpreendeu a todos e desafiou o cinema enlatado de Hollywood.


      Desde o primeiro livro, Suzanne Collins não nos apresentou Katniss como uma personagem que se resume aos conflitos de um triângulo amoroso como muitas autoras vem fazendo, mas como uma adolescente precocemente amadurecida pelas necessidades de uma vida sem o amparo dos pais ou da sociedade. Não fosse obstante, Katniss é vítima dos jogos impostos pela Capital para reforçar a submissão dos distritos a autoridade de seu poder, chamados sadicamente de "jogos da fome" (Hunger Games, no original). Na adaptação para o cinema o diretor Gary Ross soube não transformar a história em apenas um espetáculo na arena, explorando a crítica social intrínseca nos eventos e fazendo um filme surpreendentemente maduro e dramático para mostrar que, assim como Katniss, Em Chamas também não veio só para entreter.


   Logo na primeira cena somos novamente situados na subsistência do Distrito 12, onde percebemos imediatamente as sequelas emocionais deixadas pelos jogos em Katniss através do espantoso envolvimento de Jennifer Lawrence com a perturbação emocional de sua personagem assombrada trauma tendo que entrar mais uma vez na arena. A seriedade com que todos os atores interpretam seus personagens é, aliás, um dos principais fatores que constroem a profundidade da história e impressionam o publico que não via um filme tão engajado com a própria essência há muito tempo.


       A trilogia construída por Suzanne Collins representa uma realidade fictícia, destacando problemas da sociedade em que vivemos com os quais já estamos acostumados demais para notar, através de um distanciamento que nos ajuda a enxerga-los, ao mesmo tempo em que tem o cuidado de nos fazer perceber a semelhança com a nossa própria realidade, mostrando que nos deixamos conformar pelo pão e circo, embriagando-nos pela ilusória versão da realidade que construímos para satisfazer a nós mesmos, no entanto assim como os Jogos Vorazes promoveram Katniss como um símbolo de resistência à tirania da Capital ao invés de vitimá-la, Em Chamas fortaleceu a essência crítica da história introduzida no primeiro filme e não se corrompeu pela ditadura comercial de Hollywood.


        Nesse contexto em que o cinema esqueceu a força de um filme feito com uma boa ideia construída através do som e imagem, Em Chamas é um verdadeiro milagre: Uma adaptação madura de uma história infanto-juvenil que critica a sociedade feita com uma sensibilidade artística que raramente temos a oportunidade de ver em produções tão destacadas como essa, oque vale mais um elogio a Gary Ross que conseguiu manter-se inacreditavelmente fiel a obra original reconstruindo-a com toda a riqueza de expressão que o cinema pode transmitir. 


        Se você puder ver esse filme, não pense duas vezes e assista. Foi um dos poucos filmes que eu aplaudi e talvez o único baseado num bom livro que conseguiu ser melhor do que a obra original. Se você acha que estou exagerando, saiba que eu também desconfiei quando Em Chamas foi comparado em termos de importância com Star Wars e posso te dizer que agora eu entendo e concordo, então não perca tempo em tirar suas próprias conclusões também.

Felipe Essy

2 comentários:

  1. Realmente o filme foi impressionantemente bem feito!! Primeiro eu assisti na tela normal, sozinha, saí do cinema com um nó na garganta querendo falar sobre, mas como o Felipe ainda não tinha assistido tive que me conter. Depois nós dois assistimos em IMAX e realmente valeu cada centavo dos R$30,00 de ingresso (caro né?!). Parecia que a gente tinha sido jogado p dentro da tela e que tudo na volta conspirava para nos sentirmos na arena. O filme não pecou em nada com relação ao livro, é uma estória triste e profunda de uma heroína forjada na arena, a impressão é que Jennifer Lawrence nasceu para ser Katniss, muito perfeita no papel, sabendo dosar o drama na hora certa! Impossível não querer chorar o tempo inteiro. Não é mais um filme sobre jogos sangrentos em uma arena mas sim sobre os conflitos de uma sociedade a beira de uma revolução!!!! Ainda bem que temos A ESPERANÇA!

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    1. Bah, no fim curti tanto o filme que nem comentei a experiência em IMAX. Incomparavelmente melhor do que o 3D. Não adianta, acho aqueles óculos extremamente desconfortáveis, além de aquelas "coisas" pulando da tela quebrarem a narrativa nos lembrando o tempo todo que estamos numa sala de cinema. O nível de detalhes perceptíveis no IMAX é incrível (principalmente no trailer do Hobbit, caramba!). Sobre o filme, confesso que a garganta apertou em vários momentos, afinal é um filme muito triste tendo em vista o drama traumático revivido pelos personagens. Em Chamas veio para lembrar que o cinema é uma arte, agora é só esperar que outras pessoas se deem conta disso.

      P.S.: Louco para ver a sequência ano que vem!

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